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21/05/2020

Sec. de Saúde

Diretora do DAHA afirma que seria um desperdício de recurso público a construção de um hospital na cidade

Lisiane Fagundes cedeu entrevista e expõe os critérios técnicos de avaliação para a sustentabilidade de um hospital em municípios pequenos

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Lisiane Fagundes é atualmente a Diretora do DAHA - Departamento de Assistencia Hospitalar e Ambulatorial do Estado do Rio Grande do Sul, departamento responsável pela contratualização com hospitais, habilitação de serviços de alta complexidade, do controle, avaliação e monitoramento dos serviços e apoio técnico aos municípios e regionais. O DAHA tem como objetivo principal a organização das Redes de Atenção Secundária e Terciária no Estado.

Parte da entrevista cedida ontem (19) está transcrita abaixo, ou pode ser ouvida na íntegra clicando aqui.

A partir da pergunta básica, contextualizando nosso cenário, a Comunicação questionou a Diretora se há indicação de ter um hospital no nosso município. A sua resposta técnica foi categórica, e a partir de vários exemplos ela absolutamente não recomenda a construção de um hospital em Cristal. Considera que seria um desperdício de recurso público e ainda seria insustentável o seu custeio.

“Super importante a gente pensar na estrutura do município olhando para o cuidado na Atenção Primária prioritariamente. Então, quando tu me tras esta informação de que o município de Cristal tem 100% de cobertura de Estratégia de Saúde da Família, e que além disso o município conta com o atendimento  24h para situações de urgência e emergência a gente já vê um passo além, além do que seria o adequado para o município, que é cobertura de 100% de ESF ele ainda oferece esse serviço 24h.” Lisiane Fagundes, DAHA/RS

 

Leia a entrevista:

 

COMUNICAÇÃO - Por favor, apresente-se aos nossos munícipes, diga qual a sua atividade, onde trabalha e qual sua expertise.

LISIANE FAGUNDES – Boa tarde, é um prazer falar com vocês do município de Cristal, eu sou Lisiane Fagundes, atualmente estou Diretora do Departamento de Assistência Hospitalar e Ambulatorial da Secretaria Estadual de Saúde. Tenho experiência vasta na Gestão Municipal, na verdade as pessoas acham que é bem simples, mas a Gestão Municipal é mais complexa do que se é num Departamento de Gestão Estadual, pois na Gestão de um município a gente precisa entender e olhar para todas as áreas da saúde. Entender todos os meandros e como funciona todo o mecanismo do SUS para que o serviço chegue adequadamente à população.

 

COMUNIC – Lisiane, Cristal possui um pouco menos de 8 mil habitantes. Temos uma Policlínica com atendimento médico 24h, uma boa sala de estabilização, equipe de SAMU, suporte básico, 1 UTI móvel a disposição na Emergência, 100% de cobertura da Estratégia de Saúde da Família, inclusive com unidades descentralizadas, 100% de Agentes Comunitários de Saúde.

O hospital de referência para o SAMU é Camaquã, há 27km aproximadamente e para as demais demandas o Hospital de São Lourenço do Sul, há 30km aproximadamente.

Nos diga, Lisiane, com esse cenário há indicação de ter um hospital no nosso município?

LF  – Absolutamente. Super importante a gente pensar na estrutura do município olhando para o cuidado na Atenção Primária prioritariamente. Então, quando tu me tras esta informação de que o município de Cristal tem 100% de cobertura de Estratégia de Saúde da Família, e que além disso o município conta com o atendimento  24h para situações de urgência e emergência a gente já vê um passo além, além do que seria o adequado para o município, que é cobertura de 100% de ESF ele ainda oferece esse serviço 24h. Não é incomum a gente ter municípios que tem uma cobertura de ESF, municípios menores como é o caso de Cristal, que o atendimento 24h não acontece dentro do território, que acontece o deslocamento para um serviço mais próximo, como é o caso da referência que é Camaquã ou para outros agravos o Hospital de São Lourenço. Mas independente disso, não caberia já, de qualquer forma, dentro do município de Cristal um Hospital.

E porque? (…) Para a gente instalar um serviço hospitalar ele vai muito além do recurso público, financeiro. Antes da gente olhar para o recurso público financeiro, a gente olha para os recursos técnicos necessários para um hospital funcionar, pois o hospital precisa ser resolutivo. Para ser resolutivo precisamos ter pessoas, profissionais capacitados disponíveis que possam fazer esse atendimento 24h por dia, 7 dias por semana e que isso também se agregue o serviço prestado de qualidade e a capacidade de funcionamento desta estrutura. (…)

Não vejo outra possibilidade de atendimento além daquilo que vocês já tem no serviço 24h. Mas se a gente for pensar, ‘mas se tivesse um hospital a gente poderia internar o paciente e ele ficaria internado em Cristal’; que tipo de agravo a gente teria capacidade para atender? Como eu consigo mobilizar equipe para atender agravos, quando estou em um município tão próximo de outros municípios que também tem serviços hospitalares. E é certo, se a gente pensar em 27km aproximadamente, em 15 minutos de deslocamente o paciente sai da Policlínica e esta internado em ambiente hospitalar. (…)

Quando eu tenho um ambiente hospitalar em um município pequeno, eu não tenho volume de atendimentos para ir melhorando a minha equipe de atendimento. (…) Existem regras de segurança que são importantes de serem observadas para que um hospital funcione, e que quando um hospital é muito pequeno ele não consegue atingir o minímo exigido para segurança do paciente, existe o mínimo de atendimento que ele tem que ofertar e o mínimo de especialidades que ele precisa oferecer para que ele tenha sustentabilidade, e quando falamos em um município muito pequeno isto não acontece, é comum a gente perceber leitos ociosos em hospitais muito pequenos, e isso compromete a sustentabilidade  daquela estrutura e é uma ilusão. A população imagina ‘bom, eu tenho um hospital vou poder internar ali’, mas qualquer agravo um pouco mais complexo, já não permite que aquela pessoa fique naquele território, ela precisa ser transferida para outro lugar. Então, estes são alguns dos motivos que eu te diria que não caberia um hospital em Cristal. Se Cristal não tivesse a realidade que tem hoje. Tendo a realidade de saúde que tem hoje, de cobertura de ESF e Policlínica 24h, absolutamente. Eu Lisiane, se tivesse que dizer pessoalmente cabe ou não cabe, te digo com muita tranquilidade que não cabe, não tem necessidade de ter um hospital em Cristal; técnicamente falando não cabe um serviço hospitalar em Cristal, por todos esses critérios técnicos; ele precisa ser um serviço que se insira na rede, ele precisa atender além de Cristal outros municípios (o hospital), e aí quando o município é muito pequeno e a gente já tem esse serviço de municípios próximos, seria um desperdicio de recurso público, agora trazendo para a parte de recurso público, e uma ação que, certamente, não levaria serviço de qualidade que a população de Cristal merece.

COMUNIC – Temos alguns pacientes que fazem hemodiálise na região, na tua opinião, sendo ela técnica, há possibilidade disso ocorrer no nosso município?

LF – (…) Este é um procedimento que sempre é um procedimento crítico, precisa de um cuidado muito próximo, de uma equipe de saúde muito próxima e muito atenta. (…) Obviamente ele precisa de uma retaguarda hospitalar. De novo, a gente não pode imaginar que não conseguiria dar suporte para um paciente de hemodiálise

Considerando a distância de deslocamento para as referências hospitalares de hemodiálise, Lisiane completa:

(…) Esse deslocamente de 28, 30km, é um deslocamento que muitas pessoas fazem dentro de uma cidade (considerando região metropolitana), para fazer hemodiálise. Se desloca do bairro onde ela mora para ir ao serviço onde ela é atendida. (…)

A rede de saúde, para que ela funcione, ela precisa estar atenta para a estruturação da atenção primária, que é isso que vocês me disseram que Cristal tem. (…) Equipe organizada que consegue olhar para 100% da população. Que são a maioria dos agravos que se tem na população, falamos em 80% de agravos crônicos; para os casos agudisados, Cristal tem a Policlínica de atendimento 24h, com uma ambulância com recursos de UTI, e isso é outra excepção à regra, porque as ambulâncias hoje tem uma unidade básica do SAMU e certamente essa ambulância com estrutura de UTI ela é uma estrutura custeada pelo município, porque não caberia uma estrutura de suporte avançado para SAMU num município de 8 mil habitantes, mas o município se organiza então para dar a sua população, na necessidade, o serviço que a população está precisando. Eu vejo Cristal atendendo todas as possibilidades, tudo o que é necessário, diria que estão de parabéns pela estrutura do serviço, com o que vocês têm de estrutura de saúde no município, porque não são todos os município que a gente verifica isso.

 

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